Daniela Rezende Seixo de Brito Mendes Fernandes, para nós Dani de Brito, é o tipo de pessoa que não passa despercebida pela vida de ninguém, dona de muitas faces e múltiplas habilidades, navega pela docência, maternidade, arte e originalidade com maestria. Goianiense, professora, escritora, bailarina, artista, atriz, pianista, cantora, compositora… Dani tem olhar apurado em suas criações, trás toda experiência de sala de aula para nos chamar atenção da importância de se conviver com as diferenças, respeitar e valorizar as identidades. Autora de diversos livros ela fala um pouco de suas criações e dos seus projetos dentre eles o Cafubira Literária. Conversar com Dani é mergulhar em um mundo de possibilidades pedagógicas que removem barreiras que dificultam a aprendizagem, é oportunizar ao professor novas experiências, é acreditar que podemos construir uma sociedade melhor.
SR: Dentre tantas qualidades e formações já citadas, como a Dani de Brito se define nesse momento?
Dani de Brito: Acredito que essas formações e experiências durante meus 49 anos de vida tenham construído como me enxergo hoje. Me enxergo mais leve e com a oportunidade de fazer e ser quem eu quiser, trilhar o que fizer sentido para mim. Hoje compreendo que a vida é movimento. E, atualmente, nada faz mais sentido do que me capacitar mais e mais para sonhar e desenvolver projetos que abracem crianças e educadores no crescimento pessoal e cidadão através da leitura e ferramentas diversas, incluindo crianças típicas e atípicas. Hoje sou a Dani das histórias permeando – com muito amor, zelo e dedicação – a vida dessas pessoas…
SR: Você é autora do Projeto Cafubira Literária, este nome surge da menina sapeca e levada que você foi ou da mãe do João Vítor e do João Gabriel ?
Dani de Brito: Essa pergunta é, no mínimo, intrigante. Sabia que CAFUBIRA significa coceira? Meu pai sempre chamou meus filhos de Cafubira, por serem crianças muito “tranquilas”… (risos), por serem meninos muito sapecas, inquietos e curiosos. Então, conscientemente, o nome veio daí. Mas quando você me pergunta se veio da menina que fui – e ainda sou! -, surge uma grande identificação no meu coração. Eu nunca havia pensado assim. Obrigada por me presentear com esse olhar!
SR: O Projeto Cafubira Literária foi concebido e desenvolvido a partir do desejo de transformar a vida das crianças, possibilitando a elas a construção de valores e o desenvolvimento da autoestima, fatores muito relevantes quando se fala de inclusão. Nos fale um pouco sobre esse projeto e os cuidados para que a acessibilidade se fizesse tão presente.
Dani de Brito: São mais de 3 décadas em sala de aula. Nesses anos foram muitas as experiências e outros tantos desafios: desde dificuldades individuais na aprendizagem quanto a falta de acolhimento por parte de colegas. A inclusão, que vai desde altas habilidades às deficiências cognitivas, passando por TDA, TDAH, autismo, surdez e cegueira… não é apenas um “termo bonito” para ser usado na fala. Pessoalmente acredito que a maior dificuldade na inclusão seja a integração, o entrelaçar das crianças típicas e atípicas, e, com certeza, é um dos maiores facilitadores na aprendizagem. A proposta é que TODOS, todos que tenham acesso ao Projeto sejam verdadeiramente impactados por ele. Então, no Projeto, priorizamos o despertar de olhares para a diversidade como um ponto de enriquecimento do grupo bem como o respeito e a valorização da identidade e a oportunidade para que cada estudante aprenda, independente de sua forma de aprender. Disponibilizamos, inclusive na plataforma de acesso individual, ferramentas diferentes para as crianças conhecerem as histórias: livro físico, audiobooks, ebooks, videobooks (todos com interpretação em libras). Além de atividades pedagógicas elaboradas de acordo com os descritores da BNCC, trazendo temas atuais com “desafios disciplinares” que valorizem e respeitem o tempo e a forma de aprender e pensar de cada um. Para cada história também compus uma música em gêneros como xote, samba, pop, rock, para atrairmos o olhar e despertarmos o interesse dessas crianças tão invadidas pela mass media.
“Hoje compreendo que a vida é movimento. E, atualmente, nada faz mais sentido do que me capacitar mais e mais para sonhar e desenvolver projetos que abracem crianças e educadores no crescimento pessoal e cidadão através da leitura e ferramentas diversas, incluindo crianças típicas e atípicas.”
SR: Estamos vivendo um momento em que a educação inclusiva exige cada vez mais práticas pedagógicas e metodológicas diferenciadas para efetivar-se. Você considera o Projeto Cafubira um instrumento de ajuda pedagógica à educação inclusiva? O professor pode contar com algum tipo de apoio pedagógico para seu trabalho?
Dani de Brito: Sim, o Projeto Cafubira Literária é um “abraço no professor”, um acolher desse profissional que traz em si uma grande missão e muitos desafios. Quando planejamos uma aula, nós, educadores, precisamos nos desdobrar para buscarmos ferramentas que possam ser inseridas e atendam às diferentes inteligências, as diversas formas de aprender, as especificidades de cada estudante diante daquele tema, daquele conteúdo. Além de todas essas ferramentas (músicas, videobooks audiobooks, ebooks…), o educador conta com a Capacitação EAD com 44 vídeos, 12 vídeos para os estudantes e 10 para as famílias, roteiros de projetos, atividades interdisciplinares para serem impressas, sugestões diversas de como abordar os temas dos livros. Tudo pensado para colaborar com a rotina do educador e motivá-lo a colocar em prática infinitas possibilidades para desenvolver seu trabalho. Além disso, na plataforma temos um canal de comunicação para trocarmos experiências e desenvolvermos nossa parceria.
SR: A educação e a aprendizagem são processos neurais que quanto mais estimulados, mais resultados positivos nos fazem alcançar. Os seus livros trabalham com diversas oportunidades de atividades neurais, as ilustrações, os áudios, a afetividade com o material, as músicas… Como você percebe a importância desses elementos no uso desse material por Estudantes com Necessidades Educacionais Especiais?
Dani de Brito: Fico muito feliz quando reflito sobre os novos olhares da educação. Quanto mais elementos, quanto mais possibilidades temos para encantar nossos estudantes, mais atendemos às necessidades tão individuais, tão identitárias mesmo, da forma de aprender, apreender e se expressar. Quando o estudante se percebe capaz de aprender – e é esta a proposta de viabilizar tantas ferramentas/recursos – , cresce sua autoestima e seu protagonismo vai se desenvolvendo. Nada melhor para qualquer ser humano do que sentir-se inserido e, principalmente, capaz. E essas diversas oportunidades de atividades neurais não beneficiam “apenas” Estudantes com Necessidades Educacionais Especiais, mas toda a comunidade discente e docente.
SR: Doença de Urubu Não Pega em Beija-Flor é um livro que trabalha o tema da exclusão. Qual a visão que você quis trabalhar com as crianças? Podemos ter esperanças em um futuro menos preconceituoso?
Dani de Brito: Geralmente, quando falamos ou pensamos em exclusão, sentimo-nos no papel de vítima, desvalorizando, inclusive, a própria vítima que parece “merecer” ser posta de lado. A ideia da história é, através de personagens animais, termos contato com a história, nos emocionarmos, e nos pensarmos ocupando, em diversos momentos da nossa vida, os espaços de excluídos e também de exclusores. É preciso que nossas crianças – e nós mesmos – , entendamos que não somos “bons o tempo todo”, e, a partir daí, compreendermos a dor do outro, a nossa própria dor e nos movimentamos no sentido de compreendermos, respeitarmos e valorizarmos as diferenças. Acredito, sim, em um futuro menos preconceituoso! Creio que quando compreendermos o verdadeiro sentido do “ser humano”, conseguiremos construir novos laços que valorizem todas as pessoas, independentemente de aspectos físicos, religiosos, gênero, ou qualquer outro. Precisamos entender nossos próprios preconceitos e ajudarmos as crianças a construírem um mundo mais afetivo, solidário e menos egoísta.
SR: Lápis Cor de Pele é uma história que vai muito além da questão racial, o que mais você quis valorizar?
Dani de Brito: O título Lápis Cor de Pele foi uma encomenda de uma editora para falar de racismo às crianças. Particularmente não acredito que devamos apresentar para as crianças o que não consideramos que seria algo producente a ser desenvolvido: por que falar de racismo quando posso falar da importância de entender nossas raízes, nossa diversidade, nossas tradições? Então, o que eu quis trazer, foi a beleza de enxergarmos como as próprias crianças, com a curiosidade e encanto que o diferente nos traz. A diferença das cores de pele, do formato dos olhos, da maneira de ser, do jeito de falar…
A ideia da história é, através de personagens animais, termos contato com a história, nos emocionarmos, e nos pensarmos ocupando, em diversos momentos da nossa vida, os espaços de excluídos e também de exclusores.
SR: Nos fale um pouco da missão, da visão e dos valores do seu trabalho.
Dani de Brito: Quando redigi a missão, a visão e os valores do Projeto percebi o quanto meus sonhos, propostas e possibilidades ficaram mais claros.
A MISSÃO: Prestar um serviço de excelência, colaborando com a dinâmica educacional e os docentes, respeitando a diversidade dos estudantes e impactando a comunidade escolar, através da formação de cidadãos mais conscientes de seus direitos e deveres, críticos e competentes, capazes de transformar a sua história e o mundo em que vivem.
A VISÃO: Ser referência nacional como Projeto Pedagógico de inclusão e formação acadêmica e cidadã através das ferramentas e conteúdos disponibilizados, impactando milhares de comunidades escolares no tripé: escola, estudante e família
OS VALORES:
- Acessibilidade
- Solidariedade
- Inclusão da família no processo ensino-aprendizagem
- Ousadia
- Formação para a vida
- Profissionalismo
- Inter e transdisciplinaridade
- Valorização e respeito à diversidade
- Construção identitária do estudante